Dados os avanços das pesquisas sobre letramento nos estudos aplicados da linguagem, acredito não ser novidade afirmar que as atividades de uso da escrita não estão restritas à escola, mas se estendem aos diversos domínios sociais. Também não é novidade afirmar que, usualmente, o letramento no domínio escolar pode ser bastante diferente do(s) letramento(s) nos demais domínios sociais (cf.: Soares 2003). Saber como a prática de escrita na escola pode melhor contribuir para o letramento dos alunos em domínios não-escolares continua sendo um desafio para os estudos aplicados. Neste trabalho, a investigação da produção coletiva do gênero jornal escolar, a partir da reconstrução de flagrantes do trabalho de mediação regido pela professora, é uma tentativa de contribuição para esses estudos.
Nas interações do cotidiano mediadas pela escrita, as pessoas lêem ou escrevem para realizar atividades bastante precisas. Essas atividades dificilmente se restringem à avaliação das habilidades de leitura e de escrita, conforme as práticas escolares de letramento. No tocante à produção escrita na escola, a tradição do ensino de língua materna é fortemente marcada pelo trabalho com um reduzido número de gêneros textuais, geralmente de circulação restrita à escola. É o que pudemos verificar nas aulas anteriores à intervenção geradora dos dados de pesquisa analisados neste trabalho (cf.: Silva, 2006a; 2006b; 2006c; 2005a). Em domínios não-escolares, as práticas de letramento5 são mediadas por uma grande diversidade de gêneros textuais, sendo cada gênero utilizado para propósitos bastante específicos (cf.: Ivanic & Moss 1991).
Para ilustrar uma prática de letramento da escola aqui focalizada, reproduzo adiante um rascunho elaborado por uma aluna e corrigido pela coordenadora pedagógica.6 Eis o rascunho, seguido por sua transcrição7:
Na situação instaurada, o texto da aluna é utilizado simplesmente como indicador de avaliação da habilidade de produção escrita, tendo como interlocutor imediato um profissional especialista, professora de Língua Portuguesa e, por ocasião, a coordenadora pedagógica. A intervenção da coordenadora é utilizada para corrigir as inadequações gramaticais, bem como para orientar a intervenção a ser realizada pela professora. A iniciativa tomada pela coordenadora quando a professora mostrara a produção escrita, compreendendo a decisão de intervir e a utilização de caneta vermelha para escrever sobre o texto da aluna e esquematizar um encaminhamento a ser realizado pela professora, representa uma prática de letramento da escola.
Autoria: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502008000100004&script=sci_arttext
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"Para Freinet, uma das necessidades vitais da criança é saber se avaliar. Cada um aprende a se auto-avaliar através do trabalho que foi capaz de fazer..." (Sampaio, 1989, p. 182).