sábado, 9 de abril de 2011

O jornal escolar enquanto gênero multimodal

Dados os avanços das pesquisas sobre letramento nos estudos aplicados da linguagem, acredito não ser novidade afirmar que as atividades de uso da escrita não estão restritas à escola, mas se estendem aos diversos domínios sociais. Também não é novidade afirmar que, usualmente, o letramento no domínio escolar pode ser bastante diferente do(s) letramento(s) nos demais domínios sociais (cf.: Soares 2003). Saber como a prática de escrita na escola pode melhor contribuir para o letramento dos alunos em domínios não-escolares continua sendo um desafio para os estudos aplicados. Neste trabalho, a investigação da produção coletiva do gênero jornal escolar, a partir da reconstrução de flagrantes do trabalho de mediação regido pela professora, é uma tentativa de contribuição para esses estudos.
Nas interações do cotidiano mediadas pela escrita, as pessoas lêem ou escrevem para realizar atividades bastante precisas. Essas atividades dificilmente se restringem à avaliação das habilidades de leitura e de escrita, conforme as práticas escolares de letramento. No tocante à produção escrita na escola, a tradição do ensino de língua materna é fortemente marcada pelo trabalho com um reduzido número de gêneros textuais, geralmente de circulação restrita à escola. É o que pudemos verificar nas aulas anteriores à intervenção geradora dos dados de pesquisa analisados neste trabalho (cf.: Silva, 2006a; 2006b; 2006c; 2005a). Em domínios não-escolares, as práticas de letramento5 são mediadas por uma grande diversidade de gêneros textuais, sendo cada gênero utilizado para propósitos bastante específicos (cf.: Ivanic & Moss 1991).
Para ilustrar uma prática de letramento da escola aqui focalizada, reproduzo adiante um rascunho elaborado por uma aluna e corrigido pela coordenadora pedagógica.6 Eis o rascunho, seguido por sua transcrição7:

Na situação instaurada, o texto da aluna é utilizado simplesmente como indicador de avaliação da habilidade de produção escrita, tendo como interlocutor imediato um profissional especialista, professora de Língua Portuguesa e, por ocasião, a coordenadora pedagógica. A intervenção da coordenadora é utilizada para corrigir as inadequações gramaticais, bem como para orientar a intervenção a ser realizada pela professora. A iniciativa tomada pela coordenadora quando a professora mostrara a produção escrita, compreendendo a decisão de intervir e a utilização de caneta vermelha para escrever sobre o texto da aluna e esquematizar um encaminhamento a ser realizado pela professora, representa uma prática de letramento da escola.

Autoria: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-44502008000100004&script=sci_arttext

Nenhum comentário:

Postar um comentário

"Para Freinet, uma das necessidades vitais da criança é saber se avaliar. Cada um aprende a se auto-avaliar através do trabalho que foi capaz de fazer..." (Sampaio, 1989, p. 182).